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DOIS LIVROS DE BETH BRAIT ALVIM

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"Poemas Selvagens" é um livro em que a poesia de Beth Brait Alvim se revela marcada pelo erotismo e pelo sensualismo, com certo tempero de surrealismo.

Destaco algumas expressões que denotam as características do seu estilo versátil, irreverente e transgressor: "o besuntado arcabouço do desejo"; "os poetas e seus amores loucos por desvarios de tardes lisérgicas"

(versos de um poema dedicado ao inolvidável Cláudio Willer, o grande cortejador de poetas visionários; ele próprio um dos mais exacerbados dessa categoria).

Encontrei, ainda, na leitura de "Poemas Selvagens", outros achados extraordinários, minimalistas, alguns, como no texto intitulado "Fórceps": "Insone/sou gafanhoto que/ carrega/ a Caixa de Pandora/ no útero".

A procura de certa sublimação na natureza aparece nestes luminosos versos: "as nuvens são a trégua para as minhas tormentas".

A marca existencial da condição humana emerge neste ímpeto fulgurante: "Meto a cabeça/ entre os medos e/ me viro".

Conforme bem detecta Gledson Sousa, Beth Brait Alvim surpreende pela "confusa memória das coisas que junta o tempo, as vozes dos bichos, a melancolia da noite".

O segundo livro de Beth Brait Alvim, que pretendo comentar é "Língua Febril", igualmente repleto de indômitas ressonâncias. Com efeito, desde os primeiros textos, a poeta afirma sua força em versos como os do poema "Subterrânea": " meu amor sonha barrancos e sufocos".

De pronto, nota-se certa nostalgia, própria de uma sensibilidade exacerbada e autêntica: "Naquele tempo sobrevoávamos à eternidade/ sem freios nos pés/ inventivos/ ousados.

A poesia como sublimação de sofrimentos mostra-se nestes versos: "meu coração é rio que rumoreja,/ após quarenta dias dias no deserto".

De súbito, aflora uma inusitada constatação estarrecedora: "Viver é suspiro/ é nadar oceano/ sem a esperança de/ um barco.

O livro está eficientemente estudado por Gledson Sousa, que observa como a voz da poeta transita por vastas regiões numa comunhão com tudo o que é vivo".

Com semelhante argúcia, testemunha

Giselle Ribeiro: "Língua Febril" é um livro que se desdobra, em descontínuo, uma dissolução da ordem, do comando. "O título já é uma transgressão viva", pois estamos diante de uma poeta "que não mede mais palavras".


Márcio Catunda

 
 
 

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