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Vanessa Molnar Depois da Natureza

O fim do mundo chegou. E esta não é a pior parte. Depois da natureza, não existe lirismo.

O livro de contos de Vanessa Molnar, publicado pela Editora Clóe, em edição caprichada, é um compêndio de pequenos desastres que, somados, dimensionam a distopia contemplada pela autora num futuro que muitas vezes se assemelha assustadoramente por demais ao nosso presente imediato.

Moderadas pela violência, as relações entre os diferentes personagens do livro não encontram senão as mesmas impossibilidades, como se a destruição ambiental que os acerca acarretasse também a destruição de sua própria humanidade.

Mesmo a perspectiva amorosa, ao longo do livro, vai se transformando em meio para novas e repetidas formas de agressão. O próprio amor como instrumento da mesma aniquilação de todas as coisas. Amar como dar chance para terríveis perversões.

A inventividade e a perícia narrativa da autora se colocam engenhosamente em curso do primeiro ao último conto do livro, que começa numa ambulância e termina, simbolicamente, num canil, como se os últimos lugares possíveis de convívio nesta terra arrasada se resumissem aos ambientes mais inadequados. Há ainda matadouros, cemitérios, praças abandonadas, necrotérios e outros espaços inusitados.

Mesmo as narrativas mais fantásticas não suplantam a atmosfera caótica proposta por todo o conjunto, onde até a fantasia está submetida à lógica da destruição.

Esta oposição entre domínio técnico da escritura e tematização catastrófica, tornam a experiência da leitura paradoxalmente instigante, exigindo do leitor algumas pausas reflexivas e um estômago preparado para fortes emoções.

Ao nos colocar diante deste paradigma distópico onde, no entanto, os personagens continuam sendo humanos como sempre fomos, Vanessa parece nos alertar para o quão perto muitas vezes já estamos deste estado de completa devastação moral e planetária.

Alguns contos têm seus personagens repetidos, como se este entrelaçamento repentino das histórias apontasse para o fato de que nossos destinos como humanos estão também interligados, queiramos ou não.

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Por fim, Vanessa, desde o título do livro, parece nos provocar sobre nossa própria natureza. Estamos, diante das escolhas que a humanidade tem feito, nos afastando ou nos aproximando ainda mais de nossa forma selvagem?

 
 
 

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